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Atualizado em: 01-12-2025 10:23

OPINIÃO - COP30: um espetáculo caro para resultados pequenos

A COP30 deixa uma lição clara: não se muda o destino de uma nação com eventos grandiosos, mas com políticas sólidas, foco econômico e coragem para dizer “não”
OPINIÃO - COP30: um espetáculo caro para resultados pequenos OPINIÃO - COP30: um espetáculo caro para resultados pequenos

Por: Guilherme Teixeira


A COP30, realizada em Belém, foi anunciada pelo governo como o grande evento que colocaria o Brasil no centro das discussões globais sobre o clima. Investiu-se dinheiro público, construiu-se uma narrativa de protagonismo ambiental, anunciaram-se promessas de desenvolvimento regional e, mais uma vez, acreditou-se que uma conferência internacional seria capaz de transformar a realidade de países em desenvolvimento. O resultado, porém, foi bem distinto do discurso oficial.


A conferência terminou com um texto tímido, negociações arrastadas e nenhum compromisso concreto capaz de alterar de fato a rota das emissões mundiais. E não por incapacidade organizacional do Brasil, mas porque a própria natureza desses encontros vem se mostrando ineficaz. Os países mais poluentes continuam se esquivando de metas ambiciosas; os mais ricos insistem em condicionar recursos; e os países em desenvolvimento, como o Brasil, ficam presos a uma pauta que exige sacrifícios econômicos pesados, sem contrapartida real.


Apesar de todo o entusiasmo do governo, a verdade é que a agenda climática, tal como é conduzida globalmente, interessa muito pouco às nações em desenvolvimento. Enquanto as potências discutem “transição energética” com base em suas matrizes consolidadas e vastos recursos tecnológicos, países como o nosso lidam com problemas urgentes — desigualdade, segurança, infraestrutura e crescimento econômico. Pedir que essas economias renunciem a potencial de exploração energética, mineração, industrialização e expansão agrícola em nome de metas climáticas impostas por quem já se desenvolveu é, no mínimo, questionável.


A COP30 expôs exatamente essa contradição. Despejou-se uma soma considerável de recursos públicos para sediar um evento que, ao final, pouco ou nada trouxe para a economia brasileira. Não houve novos investimentos relevantes, nenhum acordo bilateral de grande impacto, nenhum plano concreto de financiamento climático que trouxesse vantagens reais ao país. O que vieram foram discursos, declarações vagas e promessas que se repetem há décadas — sempre adiadas para as próximas conferências.


Enquanto isso, o governo aposta forte em uma narrativa ambiental que não dialoga com a realidade da economia nacional. Carrega o discurso de liderança climática como se isso, por si só, gerasse prosperidade. Mas o mundo real segue mostrando que país rico cuida primeiro da própria riqueza, e só depois do clima. A Europa protege seus agricultores com bilhões em subsídios; os Estados Unidos expandem petróleo e gás enquanto falam em energia limpa; a China continua sendo o maior emissor do planeta enquanto aumenta sua matriz de carvão. Nenhum deles está disposto a abrir mão de poder econômico.


O Brasil, porém, parece acreditar que o papel de “salvador ambiental” rende vantagens que nunca chegam. E paga caro por isso: eventos milionários, promessas de investimentos que não se concretizam, discursos bonitos que não reduzem desigualdades — e nenhuma estratégia real para transformar o protagonismo ambiental em desenvolvimento.


A COP30 poderia ter sido uma oportunidade de mostrar ao mundo uma Amazônia viva, produtiva e economicamente integrada ao país. Mas foi reduzida a mais um palco de reuniões genéricas, documentos esvaziados e um turismo diplomático barulhento e ineficiente. Não gerou infraestrutura duradoura, não criou empregos de alto impacto, não atraiu investimento genuíno. Apenas reafirmou o que muitos já percebiam: as grandes conferências climáticas estão cada vez mais afastadas da realidade, e cada vez mais próximas do simbolismo vazio.


O debate ambiental é importante — ninguém discute isso. Mas confiar o futuro econômico do país a conferências que já não produzem resultados é, no mínimo, um erro estratégico. O Brasil precisa olhar para suas próprias prioridades, entender que desenvolvimento sustentável começa com desenvolvimento, e que nenhum país se torna próspero apenas com discursos.


A COP30 deixa uma lição clara: não se muda o destino de uma nação com eventos grandiosos, mas com políticas sólidas, foco econômico e coragem para dizer “não” quando o mundo exige do Brasil sacrifícios que ele jamais exigiu de si mesmo.

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